terça-feira, fevereiro 19, 2008

Quando a violação é inevitável...

Encontro-me no 17º piso do edifício onde fica o meu escritório em Luanda. É já noite e a imagem da Baía iluminada dá um aspecto charmoso e algo cosmopolita à capital Angolana.

Eu, tal como muitos Portugueses e outros cidadãos do mundo, vimos aqui parar em busca de novas oportunidades de negócio, de internacionalizar carreiras ou até de mudar de vida.

Quando o desafio se me deparou há pouco mais de 2 anos atrás, não sabia ao que vinha. Logo eu que não sou daqueles que se costuma atirar de cabeça... em nada na vida. Mas dessa vez achei que devia. A letargia profissional em que me arrastava levou-me a arriscar. Logo promessas de um belo ambiente encontrar, uma cidade fantástica com todas as condições necessárias me fizeram. E não moderei convenientemente as expectativas até porque era o consolo que precisava para que não voltasse atrás.

Auscultei amigos que já tinham passado por esta aventura. Disseram que o tempo fora do país e dos entes queridos era o que mais custava. Afinal, em comparação, só ficaria algumas semanas de cada vez e não seria sempre.

À chegada encontrei um ambiente bem hostil, com malta a pedinchar por todos os lados e a gritarem loas a Portugal à espera de uma "gasosa" por parte do "amigo" a quem tratavam pelo nome que houveram escutado quando quem me esperava me chamou.

Depois era a escuridão, a habitação velha que descartava a "mansão hollywoodesca" que havia criado na mente, um grupo de colegas desconhecidos que ainda assim se mostraram hospitaleiros. Estava em estado de choque que se agravava ao ver faltar a luz na rua e verificar que as comunicações para Portugal eram difíceis muito por causa da maldita configuração da internet e da incompetência de quem não activou o roaming ainda que o pedido tivesse sido feito com um mês de antecedência.

Apesar de tudo, vencido pelo sono, acalmei, resisti e cá me aguentei 3 semanas. A 2ª dose veio um mês depois para 2 semanas. Não fosse a congestão que me fez ficar 3 dias em casa, teria sido um tiro. Aí verifiquei outra face desta Angola em franco crescimento (não confundir com desenvolvimento). Sair de casa é mentira. O perigo espreita a cada esquina e para quem não conhece, sair de casa nem que seja para esticar as pernas é estar a pedi-las. É que dá-se logo nas vistas pela cor da pele (não interpretar como boca racista).

Passaram dois anos e continuo nestas andanças. Francamente para mim duas semanas por cá é mais que suficiente. Como eu gosto da banalidade dos shoppings em Lisboa (nunca pensei dizer isto). Quem sabe se me tivessem moderado as expectativas não me custasse agora tanto cá vir... pelo menos cumpro esse papel com cada novo colega: "Man, You're going to Hell!". Eles chegam cá e concluem: "Afinal isto pode ser mau mas não é assim tão mau".

Cheguei há 5 dias. Vindo de Londres para uma fugaz paragem em Lisboa num Dia dos Namorados que ninguém planeia como tal, entre aeroportos e alguns beijos fugazes e saudades que já são muitas ainda o avião não descolou. O contraste é gritante a começar pelo clima: Londres 2º; Lisboa uns 10º e Luanda uns 30º. Curioso como numa semana 3 cidades começadas por L todas com 6 letras na sua língua materna.

Ainda faltam 25, ou talvez não. Nunca se sabe quando os planos se alteram.

Mas chega de melancolia. Não adianta de nada. Afinal isto não é o Inferno. De todo. E se tem que ser que seja.

E se a violação é inevitável, mais vale relaxar e aproveitar o momento. :DDD

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